A análise de créditos financeiros é imprescindível para que as empresas consigam crescer de forma saudável e alcançar o faturamento esperado. O assunto se torna ainda mais relevante para pequenos negócios, que necessitam desenvolver estratégias para controlar melhor seu capital de giro e manter suas atividades a longo prazo.
Além disso, após recentes episódios de instabilidade econômica e financeira que o Brasil passou, tornou-se necessário enrijecer as regras de concessão de crédito para minimizar riscos na cobrança.
Diante da importância dessa análise, elaboramos este artigo, que traz a visão de Márcio Antunes Salles Caxias, professor da Cursos Módulos na área financeira com amplo conhecimento no assunto. A seguir, explicamos o que é essa análise, qual seu principal processo, sua importância para pequenas empresas e muito mais. Confira!
O que é análise de créditos financeiros?
Trata-se de um processo que mede a concessão de financiamento aos clientes. Quando uma organização determina os prazos para os clientes pagarem a dívida, precisa ter certas garantias do devedor, já que ela não vai receber o capital de imediato.
Por isso, o departamento financeiro do credor estuda diversas formas de minimizar os seus riscos, buscando o máximo de garantias da outra parte.
A análise de crédito é baseada no cadastro e histórico do devedor. Ela é realizada no início de uma venda e tem a finalidade de reduzir os riscos de inadimplência. Observe que falamos em “reduzir riscos”, já que eles não são eliminados completamente.
Para que o processo seja realizado corretamente, a área financeira precisa ter uma sinergia principalmente com o setor de vendas, analisando os documentos e estabelecendo metas de vendas necessárias para compensar inadimplências futuras.
Como é feita a avaliação de crédito?
O principal processo de uma boa análise é o cadastro, que consiste nas referências comerciais, relatórios contábeis apresentados, consulta aos órgãos de proteção ao crédito, entre outros atos. Falhas nesse procedimento abrem margem para problemas futuros com cobranças do departamento financeiro.
Entretanto, ainda há outras ferramentas que podem ser aplicadas posteriormente, como relatórios gerenciais e administração financeira contábil. Mesmo que a empresa tenha apenas um colaborador no seu setor contábil, ela deve estruturar uma checklist com toda a documentação necessária, com informações como:
- opção pelo Simples Nacional;
- se a responsabilidade é limitada;
- se trabalha com pessoas físicas;
- lista de sócios, diretos e representantes;
- construção do contrato social.
Qual a importância da avaliação de crédito para pequenas empresas?
As grandes empresas já contam com um processo estruturado, porém ele está ausente em grande parte das pequenas e médias empresas, o que pode afetar a sua sobrevivência no mercado.
De acordo com um estudo do IBGE, menos de 38% das empresas sobrevivem após cinco anos de atividade. Um dos fatores que contribuem para essa estatística é a falta da avaliação de crédito. Muitos empresários de grandes polos econômicos (regiões Sul e Sudeste) adotam programas de compliance, estabelecendo normas e procedimentos para aumentar as chances de sucesso.
Entretanto, há uma cultura paternalista nas empresas pequenas e familiares. Muitas vezes seus proprietários não veem as novidades com bons olhos e se limitam a ideias antigas. Se os gestores não desenvolverem uma visão corporativista e investirem em treinamentos para seus profissionais, acabam deixando de fazer a análise de crédito e realizam negociações desfavoráveis, o que pode ser fatal para o negócio.
Como fazer uma análise de crédito para o cliente?
É preciso reunir informações referentes à capacidade de pagamento — estado de liquidez — e solvência do cliente, o que pode ser feito pelos relatórios contábeis. Assim é possível extrair dados como vendas, impostos, fontes etc.
Quanto à restrição cadastral, pode-se consultar os dados do Serasa e órgãos como CADIN, que mostram todos os maus pagadores, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, nas esferas municipal, estadual e da União.
Entretanto, pequenas e médias empresas sofrem pressão da diretoria para liberar o cadastro e faturar. Nessas organizações predomina o pensamento equivocado de “se eu pedir muitos dados, o cliente fugirá”, mas esses documentos são fundamentais para a análise de crédito. O contador precisa elaborá-los para possibilitar que as vendas, despesas e outras informações de um determinado período sejam conferidas.
No cadastro devem estar formalizadas informações como condições básicas de pagamento, juros, ações a serem tomadas na hipótese de atrasos etc. Com elas a empresa evita grandes riscos, pois, caso ocorram problemas, poderá buscar ajuda jurídica e o profissional terá as bases legais para as providências necessárias.
Quais são os problemas na concessão de crédito e como evitá-los?
A melhor forma de reduzir problemas na concessão de crédito é sendo rigoroso na sua análise, bem como na solicitação de documentos. É necessário formalizar um contrato e exigir uma série de informações nos relatórios contábeis, como balanços, análises horizontais e verticais etc.
Não existe um modelo padrão a ser seguido, mas é recomendável começar seguindo as normas da empresa. As vendas iniciais devem ser feitas à vista e, à medida que o cliente se relaciona com a empresa, o crédito será liberado. Isso minimiza os riscos e a entidade consegue acompanhar a reciprocidade do cliente.
Há o modelo chamado de score para medir os riscos de um cliente. Geralmente companhias assinam planos mensais de órgão de proteção ao crédito — como o Serasa — para consultar o banco de dados.
É importante observar se o cliente está sendo muito pesquisado no Serasa. Isso sinaliza que ele está comprando em muitos lugares, o que é um indicativo de fraude, exigindo levantamento mais apurado de suas informações.
Outra tática que pode funcionar é seguir o feeling, ou seja, quando o gestor sente que algo não está certo. Muitas vezes os analistas sofrem pressão para liberar crédito e fazer a venda, mas isso gera problemas posteriormente na cobrança.
Para solucionar a questão, deve-se fazer a análise constantemente, solicitando balanço ou Via Rápida Empresa (VRE), como também implementar vendas de cartão de crédito, já que o recebimento será total.
Também há riscos na gestão da empresa. O analisa precisa saber há quanto tempo a empresa está aberta. Se estiver em fase de sobrevivência — cerca de 5 anos —, o risco é maior do que em empresas consolidadas — aquelas com mais de 10 anos no mercado.
Assim, deve-se fazer uma checklist do comprador, estudando como é composto o quadro de colaboradores, como presidente, vice-diretor, gestor e o grau de instrução de cada um.
Como fazer o monitoramento de crédito?
O monitoramento é a revisão contínua das contas a receber da empresa, feito com objetivo de estudar se os pagamentos estão ocorrendo conforme as condições estabelecidas. São dois os indicadores utilizados com mais frequências para fazer o monitoramento:
- período médio de cobrança: apresenta o tempo médio que as cobranças são creditadas;
- organização cronológica das contas a receber: divisão por data de vencimento dos créditos fornecidos.
A análise de créditos financeiros é um importante processo para reduzir os riscos da empresa e garantir que ela tenha capital de giro para manter suas atividades. A sua falta poderá causar prejuízos de difícil reparação ao negócio, ao mesmo tempo em que sua boa utilização possibilitará negociações mais vantajosas.
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